sexta-feira, abril 17, 2015

LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALORIZAÇÃO DO IDOSO

MONOGRAFIA

TEMA: «LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALORIZAÇÃO DO IDOSO.»

SUMÁRIO: 1. PREÂMBULO. 2. O TEMPO PASSA... 3. O LADO POSITIVO DAS COISAS. 4. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE. 5. CONCLUSÃO. 6. BIBLIOGRAFIA

                                      Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas

«Interessar-te por novos motivos ajuda a viver em permanente juventude. Sejamos como os rios, que renovam constantemente suas águas. » (RAUMSOL).



1. PREÂMBULO
                                      Antes de tudo, o idoso é um ser humano que acumulou nos seus anos de vida um cabedal de experiências que deve transmitir aos mais novos.

                                  Os anos vão passando e o cenário da vida toma outros contornos.

                                      Surgem a estabilidade emocional e o delineamento dos passos a serem dados no caminho do existir.

                                      A maturidade acontece e fico a pensar naqueles sonhos juvenis que foram deixados para trás e muitos deles se tornaram realidade na etapa de hoje, que um dia pertenceram ao futuro.

                                      A luta pela sobrevivência cede espaço às conquistas do espírito, pois os atrativos do material já não ocupam tanto tempo da mente.
                                      A escala de valores, com o tempo, vai mudando e vou aprendendo dar a verdadeira dimensão às coisas.

                                      O que anteriormente tinha muito valor para mim, hoje, tem o valor que deve ter, ou seja, não vale mais nem menos do que vale.

                                      A minha mente ainda se ocupa muito com os pensamentos do mundo físico, deixando pouco espaço para os pensamentos de ordem superior.
                                       A veta está aí, aproveitar o tempo livre para cultivar o espírito, o que perdura, a essência do ser, a semente que ficará, posto que é eterna.

                                      Quem não tem um ideal carrega a morte sobre os ombros, disse o pensador RAUMSOL.
                                       
                                      A vida é constante atividade, portanto o homem tem que cumprir com essa lei, mantendo-se ativo, porque «a inércia submerge o ser na imobilidade, obrigando-o a levar às costas, como um peso morto, seu próprio espírito».

                                      Há que fazer dessa vida uma verdadeira alquimia: quando as lutas que a vida ofereça forem duras, suaviza-as. Não aumente sua dureza tornando-se pessimista ou deixando que seu vigor decaia. Faça em todo momento, da luta, um ensinamento; torne doce o seu sabor quando essa luta lhe seja amarga.

                                      Insuflar na vida a força do valor permitirá enfrentar as situações difíceis. O temor deprime, aflige, tortura, amargura e entristece.

                                      Tudo na vida tem que ser feito com valor.

                                      Estamos falando aqui não do valor físico, mas do moral e espiritual.

                                      O temor é sinal negativo da existência humana e, portanto, deverá ser afastado da vida.

                                      «Ser valente é dar mostras de segurança pessoal. »

                                      Quem cultiva o valor não vive atemorizado, sugestionado pelas notícias diárias, produto de um mundo convulsionado e cheio de perigos e permite que ajudemos aqueles que se atemorizam.          


2. O TEMPO PASSA...

                                      Hoje desfruto da chamada «melhor idade». Como foi minha vida até aqui? Plantei, colhi, voltei a plantar e torno a colher. E também planto para o futuro. E os ideais? Os sonhos? As aspirações? Os anelos? Mudam.

                                      O horizonte é outro. Não é o mesmo da infância e não pode ser igual ao da juventude. Ainda bem!

                                    Sei que plantarei e continuarei colhendo o que plantar até o final dos tempos. Do meu tempo. Anelo que as colheitas sejam profícuas.

                                      Como manter o entusiasmo e a boa disposição dos tempos da juventude? Como continuar sonhando e tendo a vontade de viver e ser melhor? Sei que alimentando um ideal, o ideal superior de aperfeiçoamento.                               

                                      Mais que nunca, a vida é luta e devo continuar lutando, rompendo com minhas debilidades e limitações.


3. O LADO POSITIVO DAS COISAS
                         
                                      Realmente, encarar e ver o lado positivo das coisas é estar sempre mantendo as energias necessárias para prosseguir vivendo, pois, a vida nos foi dada para desfrutá-la e os obstáculos e dificuldades que surgem quando se vai ao encontro de um ideal deverão ou deveriam se constituir num grande estímulo para se avançar, avançar e avançar sempre.

                                       Li certa vez que um autor disse ter lido em um escrito bem antigo, em folhas amareladas pelo tempo, que havia um homem que saiu ao encontro de um ideal e lhe cortaram os braços e ele prosseguiu. Cortaram-lhe as pernas e ele, persistente, seguiu rolando em direção à meta ideal.
  
                          Encarar as coisas com alegria e valor, que são forças que nos impelem a seguir avante nessa luta e possuir um ideal que nos inspire, é vencer nessa viagem para a superação, o aperfeiçoamento. Porque quem não tem um ideal carrega a morte sobre os ombros.

                                    E a felicidade está nas pequenas coisas, nas pequenas conquistas, nas pequenas porções de bem, espalhadas pela Criação.

                                    Também fazer as coisas com gosto alivia o peso daquilo que pode parecer desagradável.

                                    O cultivo da gratidão, sentimento nobre, permite que sejamos merecedores do bem recebido. O ingrato atrai para si o revés, pois demonstra desprezo por tudo aquilo que lhe foi útil e lhe fez bem.

                                   Aprendi nesta vida que a atitude de me queixar das coisas que me incomodam significa debilidade e retira forças que preciso reunir para vencer as dificuldades e afastar os obstáculos.

                                   Finalmente, na vida há duas grandes oportunidades que a todo instante perdemos, uma é a de não incomodar os demais e a outra é a de não sermos, ou não nos sentirmos incomodados pelas atitudes, gestos e modalidades daqueles que convivem conosco.

                                   Pode-se dizer que mudei em muito, aquela atitude comum aos seres, de pessimismo e achar que a vida é cheia de sofrimento e angústia, ao contrário, a vida é um maravilhoso campo experimental, onde, se quisermos, podemos encontrar a felicidade nas pequenas coisas que estão próximas de nós. E de cada um depende que nossos pés pisem espinhos ou pétalas de rosas, nessa caminhada em direção ao que cada qual forja para si como ideal.

4. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE                              

                                      A longevidade e o tempo livre são dois fatores que, ligados ao tempo caracterizam essa etapa da vida humana, pois ao se viver mais, o tempo se amplia e surge uma indagação: como aproveitar melhor esse tempo?

                                      A participação social exige que se pense em novas propostas que contemplem a valorização do idoso. Esse participar é ativo e não comporta mais a fase contemplativa que se resumia em deixar que o tempo passe, mas se adiantar ao tempo, realizando atividades criativas e úteis, através de uma valorização crescente desse ser humano que tem uma trajetória de vida que o habilita a enriquecer o acervo de conhecimentos acumulado.

                                      O idoso haverá de ser convidado a transmitir sua experiência de vida a grupos de jovens, orientando-os em suas lutas e dificuldades para superar obstáculos.

                                      A experiência do ser adulto é importantíssima. Mas onde está essa experiência? O adulto a transmite ao jovem? Como a transmite? É bom lembrar que quando um pai dá um conselho a um filho, ele, naturalmente, já viveu tudo o que esse conselho encerra e que, ao expressá-lo, quer evitar ao filho o que para ele foi motivo de sofrimento ou causou-lhe danos.

                                      Gostaria de lembrar aqui o que li em um livro em que o autor relata o seguinte:

                                      «... encontrava-me, sendo criança, em uma estância e, como todas as crianças, gostava de me afastar das casas e correr pelos campos. Um dia, saí montado em um petiço, tinha que atravessar montes e serras. Andando um pouco, encontrei no caminho o capataz da estância, acompanhado por alguns camponeses, que ao ver-me, perguntou amavelmente aonde ia; ao responder que me dirigia ao rio, disse-me:

                                      - « Para chegar ao rio, terá que passar por três porteiras; tenha cuidado, menino, porque ali existe gado bravo, e quando vê gente nova é capaz de atacar». Eu já tinha ouvido falar dessa boiada, mas por efeito, talvez, dessa célebre reprodução mental do dedo tocando o vidro da lâmpada, decidi continuar o caminho. As porteiras que tinha que cruzar para chegar ao rio eram dessas antigas, cujos paus horizontais, superpostos, se introduzem nos orifícios de dois postes verticais colocados em ambos os lados do caminho. Ao passar pela primeira, lembrei-me da RECOMENDAÇÃO do capataz, o qual me havia dito que a deixasse aberta ou só com o pau inferior colocado, para o caso de que a boiada corresse atrás de mim. Quando atravessei a segunda, esqueci-me da recomendação e afastei-me após ter fechado a porteira com todos os paus; ainda bem que ouvi, próximo, um burro zurrar, e crendo que fosse um leão, ou algo parecido, rapidamente voltei para tirá-los. Ao passar a terceira porteira, já próxima do rio, também tirei os paus. Descia o vale, quando vi, de repente, a boiada pastando tranqüila. «É a isto que chamam de gado bravo? - disse-me, ao mesmo tempo em que decidia passar no meio deles. Não havia transcorrido um minuto, quando um touro enorme, que me pareceu de vinte ou trinta metros cúbicos, levantou a cabeça, olhou-me e, em seguida, começou a correr na minha direção e, com ele, todos os demais. Então sim, vi o perigo e fincando as esporas nas ilhargas do meu petiço, passei como um bólido pelas porteiras. Vendo que levava vantagem, ao chegar à última detive-me para fechá-la e deter, assim, a passagem das bestas. »

«Passado o mau momento, instantaneamente me recordei do capataz. Emocionei-me; enchi-me de ternura e compreendi quanto bem me havia feito sua PALAVRA; uma PALAVRA HUMANA, UMA ADVERTÊNCIA.... Recordo que, quando lhe referi o ocorrido, me disse: - «Ah! Jovem, você se salvou porque tirou os paus da porteira. Meu filho foi morto por essa boiada. » Compreendi, nesse instante, quanto pode encerrar uma PALAVRA e como penetra quando é DITA PARA FAZER O BEM; compreendi, também, que esse homem tinha querido salvar em mim o seu próprio filho, e isto jamais pôde apagar-se entre as tantas recordações que existem em minha vida. »

                                      Por outro lado, « não existem escritas em parte alguma – porque possivelmente não foi dado a ninguém abarcar semelhante empresa – as INUMERÁVEIS EXPERIÊNCIAS pelas quais o ser humano está exposto a passar durante sua vida. Daí que a JUVENTUDE se ache completamente órfã de conhecimentos e carente de quem possa guiá-la com verdadeiro acerto pelo mundo no qual penetra, evitando-lhe dar tropeço após tropeço e livrando-a, com isso, do que costuma afetar grandemente o coração, a mente e o espírito nessas ternas idades. Não quero significar com isto que se deva brindar a ela a mais absoluta facilidade, aplainando-lhe totalmente o caminho a seguir, pois isso seria tão absurdo quanto o anterior; mas sim, facilitar-lhe em parte o percurso desse caminho, ajudando-a nos momentos difíceis com a luz do conhecimento extraído das experiências, com o objetivo de evitá-las. Isto seria uma grande obra, capaz de chegar a infundir muita confiança na humanidade. »

                                      Eis aí, então, uma grande tarefa, um desafio, para o idoso ativo: transmitir a sua experiência de vida para o jovem carente dela. Aprender ao ensinar isso, recordando de sua trajetória e extraindo de sua experiência a luz do conhecimento, que iluminará o caminho do jovem.

                                      O exemplo dos maiores é de grande valor moral para os jovens, pois «a moral se edifica com o bom exemplo, não com palavras. »

                                     
5. CONCLUSÃO

                                      Não há idade para aprender. Em todas as idades o querer aprender haverá de ser o dínamo para se avançar. O último que deveríamos perder, se é que haveríamos de perder algo, seria a vontade de aprender. Quem está sempre aprendendo e querendo aprender se mantém vivo e bem-disposto, pois, nesse aprendizado se amplia a vida e se vive bem, gerando energias que formam o valor. É como se novas porções de vida se somassem à própria vida.

                                      Como viver, então, em permanente juventude? Outra proposta das tantas aqui ventiladas. O segredo está em me interessar por novos motivos. Devo ser como os rios que renovam constantemente suas águas. RENOVAR SEMPRE OS MOTIVOS PARA VIVER.

                                      Poderíamos aqui afirmar que A VIDA SEM CONHECIMENTO É NADA E COM ELE É TUDO.

                                      Vencer a morte é vencer a inércia que é ausência de vida. Devemos buscar sempre a atividade, porque vida é atividade, permanente atividade. Atividade física, mental e espiritual.

                                       Em verdade, idoso fica o ser físico, em decorrência das mutações do tempo, mas o espírito pode permanecer em franca e plena juventude se se dispõe a permanecer em constante atividade e disposto a aprender, aprender, sempre.

                                      O envelhecimento físico pode limitar os sentidos da alma, mas não atinge o espírito que vive por um ideal de aprimoramento e de superação.

                                      Portanto, há que cultivar esse espírito a todo instante, primeiro, fazendo uma revisão dos conceitos que regem a nossa vida, pois o culto aos conceitos forma o patrimônio moral dos homens. E, em seguida, o enriquecimento desse patrimônio que haverá de permitir que a seiva juvenil continue correndo nas veias do ancião que aspira superar suas limitações.      

                                     
6. BIBLIOGRAFIA:


GONZÁLEZ PECOTCHE, Carlos Bernardo. Bases para sua conduta.
                                                                           O Espírito, Sao Paulo, Editora Logosófica, 1ª ed. 1978
                                                                     El Señor de Sándara, Buenos Aires, 1959
                                                                           Biognose, Editora Logosófica, São Paulo, 1996
                                                                           Diálogos, São Paulo, Editora Logosófica, 1995
                                                                           O Mecanismo da Vida Consciente, Ed.Logosófica, 7ª ed., São Paulo
                                                                           A Herança de Si Mesmo, Ed. Logosófica, 6ª ed., São Paulo

                                                                           Deficiencias y propensiones del ser humano, 2ª ed., Buenos Aires, 1964.

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